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Achtung Baby #16: Chico Buarque & eu

Para Chico, da menina que um dia ouviu seu disco de 1978.
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Não vou começar este texto de maneira original.

Nem vou escrever como a jornalista apaixonada por música em que me tornei. Vou escrever como quem escreve para o Chico no dia em que ele completa 80 anos. Pra ouvir a carta, cliquem no vídeo acima, amizades.Transcrevo-a aqui:

Chico,

eu cresci ouvindo você. Na vitrola da minha mãe tocava aquele disco de 78, o das samambaias. Eu ficava intrigada com aquela letra de Pedaço de Mim, sem entender que pedaço era aquele que doía tanto ao ser arrancado -o que só fui entender tempos depois- e ficava meio implicada com o dueto com a Marieta Severo em O meu amor. Aliás, como uma criança de 7 anos de idade, não dava pra entender as sutilezas de uma  canção como aquela...aquela coisa toda me parecia meio desmanchada demais. O que também fui entender muito depois. Trocando em Miúdos até hoje faz doer em mim. “A medida do Bonfim, o disco do Pixinguinha, o portão sem fazer alarde, a carteira de identidade”. Como é que pode a gente sentir saudades e a leve impressão de que já vai tarde, Chico? Não sei, mas você explicou.

Ah, e esse álbum ainda tinha Cálice, Apesar de Você, Tanto Mar… eram tempos em que a música era música. E não se enganem, isso era muito. Com toda a mensagem política -inteligentemente encapsulada ali- não era preciso de contexto pra que aquilo fosse compreendido de um jeito que só a arte pode ser. Você cantava as agruras de um Brasil sufocado, mas que reagia criativamente.

Chico Buarque, em que pese todas as influências, como Noel, João, Baden, Tom ou a poética de Vinicius, é matriz. Matriz da música popular brasileira. Suas músicas são soberanas. Você criou um cancioneiro como poucos compositores na chamada mpb. E soube ser muitos compositores: o cronista, o  malandro, o politico, o poeta... são mais de 500 canções. Por tudo isso, você é estudado, destrinchado, mas é simples de entender. Assim como a linhagem da qual descende: Noel, Ataulfo, Tom, Vinicius, você sabe que a boa música deve ser capaz de falar ao mais culto e ao mais simples dos homens.

O Chico Buarque pode ser estudado. E deve, porque sua obra é cânone. Mas a sua música, Chico, está em outro lugar. No lugar que a nossa brasilidade mais profunda escuta e entende. Chico Brasileiro.

E que orgulho de ser Chico Buarque.

Com carinho,

D.

PS: Ah, sim, a menina que  te escreve, de dentro de mim, manda agradecer por João e Maria. Se todo mundo tem uma canção sua, a minha é essa:

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Achtung Baby: por Daniella Zupo
Achtung, Baby: por Daniella Zupo Podcast
olá, eu sou Dani Zupo, escritora, podcaster, jornalista "raiz" e essa é a minha newsletter dedicada a tudo que merece atenção, baby: de dicas de livros, discos, cultura pop e viagens a tudo que nos faz parar pra sentir e refletir. Embarque.